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Fonte: http://www.miratocantins.com.br/noticia.php?l=a404ad0a2158cbc146573800191e06ec

A História de Boanerges, o prefeito perfeito.

18/10/2011 09:15:35

Arquivo MIRA
Boanerges e Dona Marica, comemorando Bodas de Ouro

Caros amigos e Parentes,
Queridos pais,
Minha intenção era fazer hoje, o lançamento de um livro sobre a vida de papai. Como não foi possível concluí-lo, lerei alguns trechos que já estão prontos, onde procurou narrar de maneira informal, passagens de vidas de meus pais.

ORIGENS:
Boanerges Moreira de Paula é o quinto, de um total de dez filhos, do casal José Moreira de Paula e Filomena Moreira de Pula, naturais de Crateús, Estado do Ceará. Meu avô o típico cearense, voz de comandante, rigoroso na criação dos filhos. Minha avó também era dura, mas, como toda mãe, procurava amenizar as situações mais difíceis. Essa criação, hoje considerada ultrapassada formou e forjou o caráter de meu pai, que ao longo de sua vida mantém uma personalidade muito forte, baseado nos princípios da moralidade, honradez e retidão passados pelos pais.
Em 1926, a família Moreira de Paula deixou a terra Natal, em busca de novas oportunidades, vieram se fixar em Carolina, no estado do Maranhão.
Vovô Moreira estabeleceu comércio, tendo mais tarde se dedicado a pecuária com a aquisição das fazendas Santa Rita e Castanheira.
Quando da mudança da família para Carolina, Boanerges ainda não havia nascido. Veio na barriga de “Dona Neném Moreira”, como minha avó era conhecida. Filhos de pais cearenses, gerado no Ceará e nascido em Carolina no Maranhão em 10 de agosto de 1927, papai foi o primeiro filho do casal a nascer na nova terra. Antes dele vieram o Antônio, o Juca, o Osiel e a Mariinha. Depois o Pedro, a Isa, o Vander, a Zenaide e a Zilma.
Papai teve uma infância igual aos meninos de sua idade e também a de seus irmãos, aprontando suas traquinagens e levando severos castigos, incluindo surras homéricas dos pais, guando estes achavam que estavam passando dos limites.
Nos estudos fez até o quarto ano primário, no Colégio Batista de Carolina. Mais tarde em Miracema, Já depois casado, juntamente com minha mãe, fez a 5ª série no Colégio Tocantins.

A MUDANÇA:

Ainda jovem Boanerges decidiu procurar uma atividade que lhe rendesse dinheiro e o torna-se economicamente independente. Resolveu aventurar a sorte, e também o trabalho no garimpo de Porto da Serra, no Estado de Goiás.
Iniciou assim os laços de união com este Estado, que ainda perduram no que hoje é o Estado do Tocantins. O começo não foi muito animador. No garimpo não bamburrou e voltou para casa literalmente só com a roupa do corpo.
Aos dezoito anos da idade Boanerges passou a tomar conta de uma filial da loja do pai em Filadélfia. Tempos depois Jose Moreira achou conveniente fechar a loja e Boanerges passou a trabalhar como balconista em Carolina, na loja do senhor Alfredo Tavares Noleto, conhecido como Fedoca. Em 1949 “Fedoca” abriu filial em Miracema, Estado de Goiás. Papai veio trabalhar nesta loja. Quando foi fechada, decidiu permanecer em Miracema e se dedicou ao comércio de carne seca, farinha e outros gêneros alimentícios, Rio Tocantins abaixo, chegando até as bandas do Maranhão e Pará, na região das cidades de Imperatriz e Marabá, indo algumas vezes até Belém. Descia em balsas feitas de buriti, em viagens que duravam até oito dias. Voltava em balsas feitas de buriti de “moto”, e comprava cal virgem para construção, que revendia em Miracema. Mamãe conta que os ombros dele ficavam esfolados por causa do peso e do contato com o cal. Nesta época já estavam cansados, mas a história do namoro e casamento é bastante interessante.

O CASAMENTO:

Logo que chegou a Miracema, Boanerges simpatizou com uma moreninha, muito esperta, no que foi correspondido. Era Maria Bandeira Cerqueira, conhecida como “Marica”. Marica é filha de João Gualberto Cerqueira e Onezina Bandeira Cerqueira. Meus avós maternos eram Maranhenses, da cidade de Imperatriz, onde mamãe também nasceu. Segunda filha do casal, de um total de sete, antes dela nasceu a Dalva, depois a Zilda, o Mundico o Pedro, a Zélia e a Terezinha. Como era natural na época, meus avós também eram bastante severos nas criações dos filhos. Ainda mais que o vovô João Gualberto foi delegado de polícia no garimpo do Barbosa no Maranhão, também em Miracema. Já pensou?
Boanerges e Marica tiveram uma paixão a primeira vista, um namoro relâmpago, que durou apenas um mês, e um casamento ainda mais rápido.
João Gualberto e Onesina não eram muitos simpáticos ao namoro. Argumentavam que o namoro era um forasteiro, e achavam muito novos para assumirem tamanho compromisso. No fundo era mesmo ciúme da filha. Frete as dificuldades os dois resolveram se casar para acabar com a questão. Para tanto resolveram fugir, depois da promessa de uma tremenda surra que vovô fez a mamãe. Esta se apressou a em contar a ameaça ao namorado que a convidou para se casarem. Mamãe de aconselhou com Dª Maria Gomes, vizinha e grande amiga de minha avó, que opinou que se ela voltasse para casa a surra ia ser feia. Cm este incentivo, Marica não teve dúvidas, se encheu de coragem e aceitou a proposta de Boanerges. Pedro e Mundico ainda foram atrás dos fujões. Pedro alardeava o tamanho da surra e Mundico, “frangote Topeduto”, queria saber quais eram as reais intenções de Boanerges. Entretanto os namorados estavam decididos e não houve ameaça de sova, ou as tais reais intenções que o fizessem desistir da idéia.
Boanerges levou Marica, seguindo os costumes da época, para a casa do Senhor Eurípides Coelho, farmacêutico e líder político de Miracema, que fez ver a João Gualberto que o rapaz era homem de bem, tinha boas intenções e o casamento daria certo. Três dias após a fuga, no dia 27 de setembro de 1949, com o consentimento e a benção dos pais, o casamento foi realizado no civil e na Igreja, celebrado pelo Padre Patrício, um cearense bravo, vermelho que nem um peru, que condenava ao fogo do inferno quem brincava carnaval e cometesse outras heresias da mesma ou de pior natureza.
Boanerges e Marica ficaram morando na residência do Senhor Agnelo Jácome, gerente da loja do “Fedoca”. Com o fechamento da loja, quando Boanerges passou a fazer constantes viagens para o Maranhão e Pará, Marica ficou morando na casa dos pais.
Com o tempo resolveram alugar uma casa, que lhes proporcionasse mais independência e liberdade. Conta Mamãe que era uma casinha de palha, situada na Rua 1° de Janeiro. Mas, Diz ela, que apesar de humilde, era a melhor casa do mundo.
Moraram também na Praça da Bandeira, hoje Praça Derocy Morais e na Rua Osvaldo Vasconselos, onde nasceram os dois primeiros filhos. Moraram ainda na esquina da Rua Osvaldo Vasconcelos com Avenida Tocantins, em casa alugada de Dª Diana e em fim mudaram para a casa onde até hoje moramos na Avenida Tocantins.

O PAI:

O dia 29 de maio de 1951 foi de grande alegria para meus pais. Nasceu o primogênito de casal, Carlos Alberto. Robusto, bem alvo, como mamãe gosta de falar, quase um alemão e dizem muito bonito, Carlos Alberto era o xodó da família. Primeiro neto de meus avós materno foi cercado de todo carinho. Num curto espaço de tempo representou a alegria e a primeira grande tristeza na vida de meus pais, pois veio a falecer com apenas um ano e meio de vida, vítima de desidratação, doença quase sempre fatal para os parcos recursos de atendimento de saúde na Miracema de então. Quando da morte de Carlos Alberto, minha mãe já estava grávida e logo depois, em 16 de setembro de setembro de 1952 nascia Marinerges, que veio ao mundo com problemas de coração. Não resistiu muito tempo. Faleceu com seis meses de vida, levando meus pais ao desespero com a morte prematura e seguida dos dois primeiros filhos. Foi um duro golpe na vida do casal. Papai e mamãe contam que choraram muito e demoraram a se conformar. Papai disse que só se resignou quando teve um misto de um sonho e visão em que Carlos Alberto pedia que não chorassem tanto, pois ele estava em um bom lugar.
Em 20 de fevereiro de 1954 nascia o Carlos Augusto, que sou eu. Por precaução de meus pais, já bastante traumatizados cm a perda dos dois filhos, minha mãe foi fazer o parto em Goiânia. Para mim, durante a infância era um prato cheio, pois caçoava de minha irmã Marinerges por eu ter nascido na capital e ela no interior. Marinerges, a segunda, nasceu no dia 16 de maio de 1956. Quanto à repetência do nome, mamãe conta que era desejo deles que eu me chamasse Carlos Alberto, mas por superstição, não deixaram que colocasse. Quando a Marinerges nasceu, resolveram da um chega prá lá nas superstições e satisfizeram seus desejos.
Em 15 de setembro de 1977 nos ganhamos o Elvis. Digo nós porque me sinto também um pouco pai dele, pois guando nasceu eu já tinha 23 e a Marina 21 anos. Foi um presente para todos nós. Papai gravava sua risada e seu choro para que eu e a Marina ouvíssemos pelo telefone, pois quando ele nasceu ainda morávamos em Belo Horizonte, onde concluímos nossos estudos. Papai sempre foi extremamente Zeloso, responsável e literalmente apaixonado pelos filhos. Mamãe conta que logo que Carlos Alberto nasceu papai deixou de tomar seus eventuais pileques e cigarros. Não gostava que ficássemos com odor de cigarro. Papai sempre teve dedicação total aos filhos. Quando adolescentes já estudando em Belo Horizonte, papai fazia uma verdadeira festa quando vínhamos passar as férias em Miracema. De vez em guando o pilhava assobiando ou cantarolado uma musiquinha, e tenho certeza era pura felicidade. Pena que nos demos e ainda damos trabalho ao velho pai.
O Elvis então foi criado cercado de carinho e cuidado extremos. Fazia tudo o que queria. Chegava a pedir para o papai ir busca água para ele, enquanto assistia o balão mágico na televisão. Durante o almoço sentava em cima da mesa e fazia o maior fuzuê. Nós reclamávamos e papai dava sonoras gargalhadas.
A única coisa que exigia era boas notas nos estudos. O sonho de papai era que fizéssemos um curso superior. Eu fiz administração de empresas. A Marina fez advocacia. O Elvis esta se preparando para dar essa alegria a todos nós.
Papai sempre nos incentivou a adquirir cultura. Eu que sempre cultivei o hábito da leitura, tive de sua parte, grande apoio. Nunca me faltaram revistas para ler, desde a pioneira “O Cruzeiro”, passando por “Manchete” e chegando até a “Veja”, assim como livros dos mais diversos estilos e autores.
Papai também gostava de levar como companhia em suas viagens. Unia o útil ao agradável. Quando ia a São Paulo fazer o estoque da casa de Marinerges, nos levava, eu e Marina, juntos. Ás vezes passávamos por Belo Horizonte onde morava a minha tia Mariinha.
Papai não gostava de nos aplicar castigos físicos, ao contrário de mamãe que era chegada no porrete. Não estou reclamando, apenas registrando os fatos.
Papai dizia que na sua infância levou muitas surras dos pais e não queria dar a mesma criação a nós. Como o “Velho Bonas” sempre foi e continua sendo nosso camarada.
Lembro dele levando eu e a Marina na garupa da bicicleta para passear, quando ainda éramos pequeninos ele fazia aquilo com prazer e orgulho. Como nós éramos e somos felizes, pois graças a Deus papai procurou satisfazer todos os nossos desejos. Só se distanciou mais de nós quando entrou de vez na política. Talvez por este motivo nós não gostávamos tanto de política.

POLÍTICA:

Certa feita perguntei a papai, que motivos o leram a ingressar na política. Ele disse-me que achava que os políticos só se interessavam pelo povo na época das campanhas eleitorais. Ele achava que poderia mudar e trabalhar pelo desenvolvimento de Miracema e melhorar a qualidade de vida da população. Por isso resolveu se tornar um político. Testemunha, assim como toda a população miracemense, de tudo o que ele realizou, sei que não foi demagogo, guando de sua resposta á minha pergunta.

HOMEM DE VISÃO:

Dentre as qualidades de meus pais, fora do âmbito familiar, as que mais me admiro são o seu idealismo e a capacidade de se antecipar no futuro, notadamente quando exerce cargos públicos. Para não exercer exagero ou corujice de filho, narrei alguns episódios que comprovam as assertivas.
Em 1972 , quando Vice-Prefeito, papai, se empenhou em criar uma escola do 2º grau em Miracema, com o curso de contabilidade. Foi aí que surgiu o Colégio Comercial Miracema do Norte. A luta para tornar realidade o seu objetivo foi muito árduo. Ele jamais desanimou. Esteve diversas vezes em Goiânia, junto a Secretária de Educação do Estado de Goiás e depois de muito esforço dobrou e venceu a burocracia e a falta de interesse do Governo pela região norte do Estado e saiu vitorioso. O colégio Comercial ficou funcionando onde hoje está o Tiro de Guerra. Mais tarde foi anexado ao Colégio Tocantins.
Quando de sua primeira administração como prefeito, papai resolveu construir um novo aeroporto em Miracema, posto que o antigo estava praticamente dentro da cidade. Decidiu construir-lo nas proximidades da Vila Maria, Setor mais alto que a região central da cidade. Foi bastante criticado por alguns, que alegavam que ficaria muito distante. Em 1980 quando a maior enchente do Rio Tocantins invadiu quase oitenta por cento da cidade, não fosse o novo aeroporto, tínhamos ficado totalmente ilhados, assim foi possível receber assistência de saúde, alimentos e roupas.
Em sua primeira gestão ele fez o loteamento Santa Filomena, no setor mais alto da cidade. O loteamento também só veio a ser habitado na época de enchente. No seu segundo mandato ele implantou a rede de energia elétrica, de água e iluminação e iluminação pública e encascalhou as ruas de setor, alem de construir um Colégio e o centro social urbano. E não e que foi ali que ficou funcionando boa parte da administração estadual quando Miracema, da noite para o dia se transformou na capital provisória do nascente Estado do Tocantins!
Mais recentemente, cumprindo o seu terceiro mandato de prefeito, guando em conjunto com o Governador Moisés Avelino, construiu a nova rodoviária, mais uma vez ouve polemica quanto a escolha do local. Papai decidiu que esta seria construída na Avenida Emma Navarro, no Setor Sussuapara, próximo ao prédio da UNITINS. Isso foi no ano de 1994. A justificativa dos contrários, incluindo eu, era a mesma: ficava num bairro afastado da cidade. Em 1998 Com a construção da rodovia ligando Miracema á Usina Hidrelétrica de Lajeado, a avenida se transformou em parte da rodovia, com movimento intenso e tenho certeza que dentro de pouco tempo será uma das principais, senão a principal via da cidade.
Acho que papai tem a capacidade de se antecipar ao tempo.

MARIA CERQUEIRA MOREIRA, UM CAPÍTULO Á PARTE:

Dizem que por traz de um grande homem sempre existe uma grande mulher. Pelo menos nos casos de meus pais isso retrata a mais pura e cristalina realidade. Marica e Boanerges se completam. Somem e se engrandecem, engrandecendo a nós seus filhos e netos. Papai encontrou em mamãe o suporte firme e valoroso para se destaca na vida familiar, profissional r política. Mamãe sempre foi o alicerce de tudo o que papai realizou. Na família com seu carisma, e seu rigor, é o exemplo que talvez nós nunca conseguíssemos acompanhar. No trabalho foi e continua sendo o braço forte, ajudando a construir e realizando todas as tarefas ao lado dele. Na política então nem se fala. Papai e u grande administrador, mas mamãe e a política ativa, desenvolta e valente que trabalha nos bastidores. Com ela não tem esta história de levar desaforo para casa. Até nas diferenças eles se completam. Papai nunca foi muito festeiro, mas sabe que mamãe gosta das festas, dos festejos, das comemorações, como esta que estamos vivendo adora. Então ele satisfaz os desejos dela e participa de todos os folguedos, só para agradá-la. Não é á toa que hoje completam 50 anos de vida em comum.
Por tudo isso agradeço a Deus em meu nome e de meus irmãos por ter nos dado pais tão generosos. Agradeço ainda por ter a oportunidade de festejar este momento tão significativo em nossas vidas. Para encerrar minha fala, convido os presentes para rezar a oração que Deus nos ensinou, em sinal de agradecimento por tudo que recebemos.

Publicado no MIRA Jornal nos 50 anos de casados de Boanerges e Dona Marica.

Por Carlos Augusto Cerqueira ( Carlito do Boanerges)