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Saúde

CORONAVIRUS/Por que algumas pessoas resistem mais à infecção do que outras?

22/02/2022 08h36

Algumas pessoas são mais resistentes à Covid do que outras?
Mesmo expostas ao vírus em situações de risco, algumas pessoas não testam positivo. Os cientistas sabem que o fenômeno de 'resistência' à transmissão existe, mas ainda não há explicações sobre essa aparente imunidade apresentada por certos indivíduos em relação ao Sars-CoV-2.

A francesa Nathalie Lidgi-Guigui é pesquisadora em um laboratório de Física da Sorbonne, na região parisiense. Especialista em nanomateriais, ela pega o trem de subúrbio para trabalhar todos os dias, não aderiu ao home-office e nem deixou de frequentar restaurantes.

Casada, e com dois filhos na escola, toda a família já havia sido contaminada pelo vírus antes. Os testes da francesa, porém, sempre foram negativos. Nathalie também acredita que possa ter contraído a Covid-19 em janeiro, em 2020, quando não havia testes, máscaras ou outros tipos de cuidado para evitar a transmissão.

Mas, hoje, já se sabe que imunidade humoral, a dos anticorpos, proporcionada pela infecção natural, dura pouco. “Cerca de um ano depois, eu fiz um teste para saber se eu tinha pego, mas ele deu negativo, eu não tinha anticorpos”, conta.

Durante o ano de 2021, antes e depois de se vacinar com as três doses, Nathalie também nunca precisou se testar.

“Eu tomo cuidado, não almoço no restaurante da empresa, prefiro comer sozinha, mas isso não me impede de ir ao restaurante com minha família. Pego o trem todos os dias, uso máscara, tento abrir a janela, mas não vivo fechada em casa”, relata. Nathalie testou positivo para a Covid-19 há apenas poucos dias, depois de quase dois anos de pandemia, e teve sintomas leves.

Casos como o de Nathalie não são isolados. Durante a crise sanitária, histórias de pessoas que moram com contaminados e não tiveram um teste positivo se tornaram comuns.

O que a ciência sabe sobre esses sortudos, que resistem melhor à infecção ou são assintomáticos? No início de janeiro, um estudo publicado por um grupo de pesquisadores do Imperial College London mostrou que, quanto maior o nível de células T que haviam sido estimuladas por diferentes tipos de coronavírus, que provocam resfriados, menor era a probabilidade de contrair o SARS-CoV-2.

Genética pode ser determinante
A RFI Brasil conversou sobre esse assunto com o cientista Laurent Abel, diretor de pesquisa do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França) e codiretor do Laboratório de Genética Humana de Doenças Contagiosas do Instituto francês Imagine, que estuda a predisposição genética ligada às formas graves da Covid-19. O objetivo da equipe é identificar os principais genes humanos que criam resistência ou que controlam a resposta à infecção gerada por diferentes micróbios.

Segundo ele, a maioria das pessoas não vai escapar da contaminação em situações de alto risco, mas outras vão eliminar o vírus antes que ele penetre nas células.

“Esse é um fenômeno que já foi descrito em outras doenças contagiosas. Provavelmente a mais representativa é a resistência à infecção pelo HIV”, exemplifica.
Nos anos 90, os pesquisadores identificaram indivíduos que, mesmo com um comportamento de risco, com múltiplos parceiros, inclusive positivos, não contraíam a doença. Essa resistência é ligada à mutação de um gene, o CCR5, um dos principais receptores do HIV, que bloqueava ou impedia a entrada do vírus nas células.

Em relação à resistência ao Covid, diz o pesquisador francês, “há observações que sugerem um fenômeno parecido com o ocorrido com o HIV".

“É algo que estamos buscando, mas por enquanto não há grandes descobertas nesse sentido, como uma mutação genética ou uma molécula essencial para a entrada do vírus”, explica.

De acordo com o geneticista francês, uma das dificuldades do estudo consiste justamente em identificar os indivíduos que são de fato resistentes, já que o SARS-CoV-2 provoca muitas infecções assintomáticas. Além disso, os participantes não podem ser vacinados e devem tomar poucas precauções para evitar as infecções. “São pessoas que não estão protegidas por um imunizante e que, apesar disso, não se contaminam. São essas pessoas que devem ser estudadas, prioritariamente”, declara.

Atualmente, um consórcio internacional formado por grupos de diversos cientistas contribui com dados de pessoas potencialmente resistentes. Em seguida, a equipe do laboratório onde atua Laurent Abel reúne os dados desses pacientes e analisa o genoma dos pacientes em busca de eventuais mutações.

Formas graves
Além dos estudos sobre a resistência à infecção, ainda em andamento, os pesquisadores já têm resultados sobre o que poderia tornar algumas pessoas, sem fatores de risco, propensas a formas graves, que necessitam de internação nas UTIS e aumentam o risco de morte.

Nos estudos realizados pela equipe francesa, os pesquisadores descobriram que alguns pacientes que desenvolviam formas severas da Covid-19 tinham mutações genéticas que agiam no circuito do chamado Interferon 1 – um tipo de proteína produzida diretamente pelo sistema imunológico nos primeiros dias da infecção. O papel dela é limitar a replicação e a propagação do vírus.

Esse fator, segundo Laurent Abel, explicaria por que jovens, sem comorbidades, morriam ou ficavam muito doentes. Esse defeito atinge principalmente homens, já que essa anomalia genética está ligada ao cromossomo masculino.

Na segunda etapa, os cientistas buscaram entender se alguns pacientes produziam anticorpos contra a proteína, em um processo autoimune. A equipe de Laurent Abel então descobriu que cerca de 15% dos casos graves são desencadeados por esses autoanticorpos, frequentes em idosos, que já têm um risco elevado de formas graves.

Por isso, um dos objetivos do programa, batizado de Coviferon, é desenvolver um teste disponível em laboratório para detectar esses autoanticorpos. “Essa informação mudaria as ações em termos de tratamento”, explica.

O projeto agora busca como adaptar a prevenção e o tratamento para pessoas que têm esse décifit de interferon 1. Uma das pistas é administração do interferon beta, uma molécula que já existe no mercado. “O importante é ter conhecimento dessa vulnerabilidade para agir rápido em caso de problema”, conclui o pesquisador francês. 
Taíssa Stivanin, RFI


   

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